A magnitude do evento de chuvas extremas no RS, nesse maio de 2024, além da destruição e calamidade decorrentes, em significativas áreas do estado, traz consequências sérias também para a Zona Sul do RS, como um todo, em especial para região de Pelotas, São Lourenço e Rio Grande, suas áreas rurais e urbanizadas, dispostas na planície.
A descarga do Guaiba, pôde ser observada em duas, realizadas com mesma cota (5,27metros), atingindo valores de 30.180 m3/s (05/05) e 29.852 m3/s (06/05). Hoje, 11/05 a medida da descarga está em 23.000 m3/s. Na cheia de 1941, os rios Jacuí e Taquari e o sistema, conectado a esses, escoaram volumes próximos a 21.000 m3/s
Aqui, mais ao sul, no canal de acesso de Rio Grande, a descarga no dia 07/05, dois dias depois da maior descarga verificada no Guaiba, apresentou a medida de 19.650 m3/s. No dia 08/05 foi de 18.100 m3/s, no dia 09/05 foi de 11.800 m3/s (possíveis efeitos do vento podem ter sido preponderantes nessa diminuição), no dia 10/05 pela manhã 20.200 m3/s e no mesmo dia a tarde 17.000 m3/s. Hoje vazante de 19.000 m3/s com ventos de SE. Nesse mesmo local, considerando algumas cheias conhecidas, medidas máximas resultaram de 5 a 7.000 m3/s. A vazante máxima que se tem notícia, nessa seção, foi da ordem de 12.000 m3/s, segundo pesquisadores da FURG.
Estamos testemunhando um evento de gigantes proporções que, certamente, não foi presenciada por nossa geração. Também, já é possível perceber que muito da água que escoa pelo Guaiba se espraia pela planície de inundação, num sistema costeiro que foi e é responsável por um escoamento lento e gradual. Cabe destacar que os cenários atuais são bastante diferentes daqueles mais críticos, conhecidos e experimentados em 1941 e certamente impõem modificações no volume e na forma do escoamento e, na carga e deposição dos sedimentos em suspenção. Destaque dessas alterações está no desaparecimento das barras falsas no ambiente costeiro, entre a Laguna e o Oceano, por ocasião da ocupação e construção da BR101 que, em condições de elevação da lagoa, auxiliavam no escoamento naturalmente ao mar. Com isso, todo o sistema lagunar Patos-Mirim escoa para seu exutório, que é a Barra de Rio Grande, canal de acesso do porto.
A composição da alimentação da Laguna dos Patos tem como principal fonte as águas que escoam do Lago Guaiba (aproximadamente 85% do Rio Jacuí; 7,5% do Rio dos Sinos; 5% do Rio Caí e 2,5% do Rio Gravataí – numa área de drenagem de 1/3 do território do RS), que se associa a outros dois grandes sistemas de drenagem: a Bacia do Rio Camaquã e a Bacia Mirim- São Gonçalo. Por certo que a ocorrência de chuvas nesses ambientes, em volumes e intensidades elevadas, amplifica o sistema da Laguna que, na situação atual já se encontra sobrecarregado pelos eventos ocorridos na região central, serra e vales do RS.
Entre os dias 01 e 04 de maio, a descarga do Rio Camaquã esteve em 4.000 m3/s, 13% da descarga do Guaiba, nessa ocorrência extrema. Na primeira semana de maio o Canal São Gonçalo apresentou uma redução da vazão e, no dia 05 chegou a 300 m3/s e, se elevou para 1500 m3/s no dia 09 de maio, retomando valores na ordem de 550 m3/s, decréscimo que pode ser atribuído à elevação dos níveis da Laguna dos Patos que impõem impedimento ao escoamento.
Os níveis na Barragem do São Gonçalo se elevaram de 1,70 metros em 01/05 para 2,84m hoje (15:00 – 11/05), na condição de montante (Mirim) e de 1,51 metros para 2,75m, hoje (15:00 – 11/05), na condição de jusante (Patos). Numa cheia histórica, que se tem registro para o local, o nível se elevou a 3,79 metros. A barragem está operando com suas 18 comportas abertas, escoando um volume considerável de água no sentido Mirim – Patos.
Entre os dias 28/04 e 02/05, valores médios de vazão de aproximados 1200 m3/s com elevação nos dias 03 e 04/05 para 1450 m3/s e, a partir do dia 05/05 uma redução no escoamento até valores de 300 m3/s observado no dia 07/05 iniciando, novamente uma elevação para vazões na faixa de 950 m3/s se elevando novamente aos valores atuais de 1200 m3/s. Esses aumentos e diminuições estão possivelmente relacionados à elevação e redução dos níveis da Lagoa, associados às velocidades, direção sentido dos ventos. As águas do São Gonçalo estão recebendo volumes crescentes da Lagoa Mirim, em crescente pelo volume de chuvas que ocorreram em Santa Vitória do Palmar (em torno de 450mm) e nas bacias dos Rios Jaguarão, Cebollati, Tacuari e Aigua, com expressivos volumes de chuvas.
A Agência da Lagoa Mirim, com atenção às suas responsabilidades e compromissos, está atuando de maneira dedicada no monitoramento hidrométrico e hidrológico e na condução das estruturas da Barragem do São Gonçalo para que os gestores locais, regionais e federais tenham informações precisas para enfrentamento da crise e com os cenários atuais estabelecer estratégias para o futuro.